ENTREVISTA: DRA. CARLA TAVARES
A senhora teve influência para seguir esta profissão?
Não, na verdade eu sou a primeira policial da minha família. Quando a gente fala estar na polícia é sempre complicado, fora que as pessoas tem muito medo do trabalho de policial. Pra família que tem alguém na polícia é sempre uma angústia, porque não sabe se vai voltar quando sai pra trabalhar. A polícia surgiu na minha vida através de um concurso público, mas não era o que eu queria, eu estava naquele momento de estudando para um concurso público, mas como não saiu o que eu almejava, que era de Magistrado, eu fui fazendo outros concursos para testar conhecimento. Quando eu passei para Delegada, no meu primeiro plantão eu gostei e me apaixonei pelo cargo de Delegada.
No Brasil há muito feminicídio e machismo. Por ser mulher e de boa aparência, encontrou alguma dificuldade para ser uma policial?
Não. Nunca tive nenhum tipo de dificuldade na minha atuação como Delegada. A postura da gente e quando a gente gosta do que faz e a forma como a gente faz, ela muda e derruba qualquer preconceito. Nunca tive preconceito nem dos meus pais e nem falta de respeito dentro da Delegacia daqueles que entram pra falar comigo.
Quanto tempo está na polícia, quanto tempo está em Casimiro e veio de qual município?
Eu estou na polícia há 18 anos e vim do município de São Gonçalo onde atuava na Delegacia de Atendimento à Mulher. Já trabalhei em várias distritais e eu estou em Casimiro 8 meses, cheguei aqui em fevereiro deste ano.
Quais os delitos mais praticados no município?
Aqui no município tem um índice grande contra a mulher, sendo um município pequeno é uma situação que assusta bastante e por isso essa rede de apoio que a gente tem no município é muito importante para continuar protegendo e amparando essas mulheres vítimas de violência e alguma incidência do tráfico, mas já está bem reduzida pois conseguimos muitos mandados de prisão contra integrantes do tráfico de Casimiro de Abreu e muitos deles já foram presos.
A senhora já teve algum caso de alguém se espantar. Tipo assim! Nossa, a Delegada é ela?
Eu acho que de se espantar sim. Quando eu trabalhei na 5ª DP, teve um Advogado querendo falar com o Delegado e se dirigiu a um policial porque queria questionar algumas determinações por causa de alguns procedimentos e o policial falou pra ele: não sou eu que vou decidir nada, você se dirige à Delegada. Aí ele olhou pra mim e disse: Nossa! Você que é a Delegada? Eu disse: Sim sou eu, pois não, em que posso lhe ajudar? Mas continuou com respeito e tranquilidade.
Uma mulher que estiver sofrendo alguma violência de assédio sexual ou feminicídio, o que ela tem que fazer aqui no município?
O que a gente sempre orienta a todas as mulheres e todas as vítimas, não se calem, não tenham medo, porque o medo é o principal aliado do agressor. Quando a mulher tem medo o agressor continua agindo. Quando ela denuncia e procura a Delegacia, quando ela procura a Lei Maria da Penha, ela consegue entrar na rede de proteção, e na rede de proteção ela consegue se livrar do agressor.
A polícia sempre fala que não tem bola de cristal, por isso precisa de apoio da população. Como ajudar?
A população precisa denunciar, ainda que de forma anônima através do disque denúncia ou diretamente na Delegacia. Número para denunciar: 22531177. Faça denúncia de forma anônima, mas a população pode denunciar diretamente a mim e pode confiar, eu vou fazer todas as anotações e vou apurar. A população precisa entender que essa é uma parceria da população com a polícia. E com isso a gente só tem a ganhar.
A senhora pretende ficar em Casimiro?
Eu sempre digo que eu pretendo ficar no município onde o meu trabalho é importante, onde ele tem efetividade, enquanto o município precisar do meu trabalho e a administração entender que está sendo efetivo, eu estou á disposição para permanecer em Casimiro de Abreu.
A senhora tem tido apoio dos políticos da cidade?
Sim, Casimiro de Abreu é uma cidade peculiar, por ser uma cidade pequena todos se conhecem. Assim que cheguei em Casimiro fui recebida pelo prefeito e imediatamente sabendo inclusive dessa questão de como se encontrava o município em relação à violência contra as mulheres e a necessidade de atendê-las de uma forma melhor em Casimiro de Abreu. O prefeito me entregou o convênio já assinado por parte da prefeitura para criação do NIAM, (Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher) aqui ao lado do prédio da delegacia. Então a prefeitura demonstrou esse apoio e a todo tempo pergunta de que forma pode o executivo municipal auxiliar na segurança pública.
E como isso acontece? Através da guarda municipal, do PROEIS que também auxilia. Então tudo isso foi feito. As obras ainda não começaram porque depende da assinatura do tribunal de justiça. A polícia civil e a prefeitura já deram o ponta pé inicial. Só estamos aguardando assinatura do tribunal de justiça para que o convênio seja realizado.
... SENDO UM MUNICÍPIO PEQUENO É UMA SITUAÇÃO QUE ASSUSTA BASTANTE E POR ISSO ESSA REDE DE APOIO QUE A GENTE TEM NO MUNICÍPIO É MUITO IMPORTANTE PARA CONTINUAR PROTEGENDO E AMPARANDO ESSAS MULHERES
Uma mensagem para a população de Casimiro
Casimiro de Abreu pode confiar na polícia civil, nós estamos de portas abertas para atender a população da melhor forma possível. Dizem que a justiça é morosa que a policia demora, pode até demorar um pouco, algumas vezes nós temos necessidade que o autor do crime seja preso hoje ou amanhã, mas a gente depende em alguns momentos de uma investigação.
O que a população pode contar e com uma investigação efetiva que é isso que a gente faz aqui, a gente investiga crimes, procura identificar os autores e trazer materialidade aos procedimentos para que quando a gente consiga representá-lo para uma prisão essa prisão saia e logo seja preso efetivamente. Confie na polícia porque estamos aqui para ajudar.
Jornalista Delson Queiroz
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